Estrela Iluminada
A cantora Maria Gadú floresce no cenário musical brasileiro com sua voz fantástica seu jeitinho cativante.
por Isabella Menezes
A sensação que se tem é de que ela está em todos os lugares. Sua música está em mais de duzentas postagens no YouTube, seu nome tem 192 mil referências no Google, seus espetáculos lotam casas de show e centros culturais, uma de suas músicas é trilha sonora da personagem princinpal da novela das oito da Rede Globo e outra música também se encontra natrilha da novela das sete e ainda é possível encontrá-la cantando a música principal do filme Sonhos Roubados, da diretora Sandra Werneck. Como se não bastasse, ela ainda arruma tempo para gravar participações especiais em projetos de amigos e também fazer um som com eles. O nome desse furacão musical é Maria Gadú e sua linda voz é o motivo de todo esse agito no meio cultural.
Pouca idade, grande maturidade
Se engana quem pensa que, aos 22 anos, ela é uma estreante e inexperiente cantora com uma boa garganta e muita sorte. O talento incontestável reside na voz suave e melódica e em muito trabalho e dedicação em tão pouco tempo de vida. Maria é um fenômeno. E não está nem aí para isso. Simpática e muito simples no jeito de ser, ela conta sorrindo, uma história engraçada de sua infância. Com uma naturalidade surpreendente, Maria Gadú explica que antes de completar 10 anos de idade, sentou para descansar em uma pedra, depois de aprontar umas travessuras com seu irmão e ali, sozinha, comtemplando o mar da praia de Aventureiro, na Ilha Grande, compôs uma música inteira, letra e melodia. “- Assim, de uma vez só! Simplesmente veio. Veio tudo, a música pronta, completa. Geralmente é assim quando componho. Vem tudo na minha cabeça já prontinho!”, diz ela com um jeito meigo e tímido de quem não faz a menor questão de se vangloriar do fato de ter composto uma música ainda criança e de que em 2010 completa 10 anos de carreira. Carreira sim, mesmo que ela não goste de dar esta nomenclatura, para não parecer que havia mais trabalho do que prazer no que fazia durante o período em que cantou na noite de São Paulo. Abrindo o largo e infantil sorriso, ela tenta convencer quem está ao seu redor de que sua trajetória de vida é bem comum e fácil de achar. Humilde sem ser piegas, ela fala o quanto acha normal o fato de ter começado a cantar aos 13 anos de idade, com a autorização e o apoio incondicional de sua mãe. Pelas muitas vezes que sua mãe é citada na entrevista e pela maneira dedicada e respeitosa como fala dela, fica nítida a relação de amizade, parceria, admiração e cumplicidade que as duas tem entre si. Maria nasceu em São Paulo e foi criada com a mãe e a avó, Dona Cila, para quem compôs uma linda canção de mesmo nome e que está em seu disco, como forma de exorcizar a saudade depois de sua morte. Foi um período bem ruim na vida da jovem cantora, que já tinha alguns anos de estrada e apenas 20 anos de idade. “-Parei de cantar. Simplesmente não tinha a menor vontade. Só canto quando quero e canto porque amo cantar. Perdi a inspiração, o tesão no negócio. Minha avó era uma coisa muito linda na minha vida e foi difícil aceitar a perda e por a cabeça no lugar. Fiquei confusa e resolvi viajar pra mudar de ares.” diz ela.
Amigos, a família que ela escolheu para si
Nessa época os amigos que a acompanham até hoje entraram em cena mais fortemente. Doga, percussionista da banda composta por 5 músicos que acompanha Maria Gadú pelos shows, foi peça fundamental para que ela superasse essa fase. Ele ia para a casa da cantora, que na época morava sozinha ainda em São Paulo e, papo vai, papo vem, conseguia fazer com que ela se alimentasse e, de vez em quando, até cantasse alguma coisa. Foi com ele que Maria foi à Itália em 2007, onde passou 4 meses experimentando tocar de variadas e divertidas maneiras. Tocou nas ruas da Irlanda, e num festival de música, na Itália, com a mesma empolgação que mantem até hoje em seus shows. Durante a conversa, ela nos conta uma experiência intrigante, quando, na Itália ela foi comer num restaurante que era famoso por ser frequentado pelo tenor Luciano Pavarotti. Ela, sendo sua fã (o primeiro vinil que ela lembra ter ouvido foi do cantor e pertencia à sua avó), estava muito feliz e empolgada em companhia de seu amigo quando, de repente, chega a notícia da morte do tenor. “-Cara, foi muito estranho. Eu ali, onde o cara comia e aí chega a notícia de que ele tinha morrido. Foi triste”, revela.
De volta ao Brasil já com as energias renovadas, resolveu passar as férias do verão de 2008 em Ilha Grande, lá onde tinha composto aquela primeira canção, sentadinha na pedra. Esta canção é hoje a trilha musical da primeira protagonista negra de uma novela das oito. “Shimbalaiê” embala a personagem de Taís Araújo por suas andanças em Búzios e, quando pergunto sobre esse fato importante em sua vida, ela diz apenas que se sente feliz porque a música toca quando estão mostrando cenas do mar e que isso realmente tem a ver com a forma como ela foi feita. E só! Vaidade sobre esse sucesso repentino e sólido? Nenhuma! E, de verdade. Despojada, tranquila e cativante, a super comentada Maria Gadú parecia à vontade, sentada numa mesinha pequena, no bar Cabidinho, em Botafogo, onde conversamos por horas, acompanhada de suas produtoras e alguns chopinhos. Enquanto conversávamos, ela contou sobre sua forte ligação com o Rio de Janeiro, já que seu pai morava aqui e ela sempre vinha passar as férias com ele. Por isso a cidade lhe cai tão bem e ela parece super ambientada com o jeito carioca de ser. Quando chegou aqui naquele verão, já recuperada da perda da avó e encontrando novamente a alegria de cantar, Maria veio para ficar 1 semana, como ela mesma diz, e está há quase dois anos direto, por conta do rumo que sua vida tomou de lá para cá. De repente, é como se uma varinha de condão mágica tivesse lhe tocado a testa e transformado sua história, ampliando seus horizontes e, apresentando para o mundo essa cantora brilhante, capaz de embalar romances e animar festinhas com a mesma categoria de uma grande diva da música.
Graças aos amigos, sobre quem faz questão sempre de mencionar, ela foi ficando, foi ficando, foi ficando, fazendo pequenos shows para ganhar um dinheirinho e ajudar a se manter por aqui, enquanto morava na casa de alguns deles. Um destes de quem Maria fala com gratidão aparente é Leandro Léo, ator e cantor, que com ela divide uma grande parceria musical, além do forte laço de amizade. Ele participa dos shows dela e ela também aparece para cantar nos shows dele. O cantor, que atualmente ensaia um musical infantil chamado “ O Barbeiro de Ervilha”, sob a direção de Daniel Hertz também pode ser visto na novela Poder Paralelo da Rede Record. Ele e a produtora e anjo-da-guarda da cantora, Renata Donec forneceram a estrutura necessária para que ela pudesse se reconciliar com a música e voltar a fazer shows. Nesta época reencontrou-se com um grande amigo de infância lá de São Paulo, o também ator Rafael Almeida, por acaso, cunhado do diretor Jayme Monjardim.
No lugar certo, na hora certa
Como diz o ditado, “A pessoa é para o que nasce” e a oportunidade de mostrar seu trabalho para alguém que realmente pudesse trazê-la à tona para conhecimento do grande público se deu de maneira tranquila e espontanea, apesar dela ter fícado tímida como sempre fica, quando tem que cantar “na frente de alguém”. Ela não tem nenhum problema em enfrentar o público aficcionado e fiel que adquiriu em tão pouco tempo de Rio e que lhe cobra atenção em voz alta, durante seus shows, mas fica enrubescida e sorri de canto de boca quando alguém lhe pede que cante algo assim, de repente. Mas aconteceu. Jayme, que estava produzindo a minissérie Maysa, sobre a vida de sua mãe, caiu de encantos pela bela voz da pequenina cantora e, a partir daí, as coisas fluiram naturalmente. Ela gravou uma participação na minissérie e daí pra frente não parou mais.
Experiente e com uma carreira toda pela frente
O resto a gente vai descobrir agora. Maria lançou seu primeiro CD em agosto deste ano e vai começar uma turnê nacional no final de outubro, apresentando um show em que toca de Noel Rosa à Sandy, além de suas próprias canções. Tudo na maior classe. Na sua lista de fãs estão João Donato, Caetano Veloso, Milton Nascimento, um enlouquecido e organizado Fã-Clube, com quem a cantora sai para beber chopp sempre que tem tempo (e ela faz questão de ter), a Revista Agito Rio e todo aquele que cai nas graças de sua voz, ao ouvir as músicas do cd que leva seu nome e que traz 13 músicas, entre inéditas de sua autoria e regravações antológicas, como Baba Baby, de Kelly Key e a História de Lily Brow, de Chico Buarque e Edu Lobo. Vale a pena conferir e se entregar a esta viagem musical que a voz e as composições de Maria Gadú são capazes de proporcionar.
Nome completo: Maria Gadú
Data de nascimento: 04/12/1986
Sonho: continuar cantando
Lazer: sair com amigos e fã clube pra beber e bater papo
Restaurante: Buffet Mariana Vidal
Praia: Ilha Grande (toda)
Viagem marcante: Itália, 2007
Uma cantora: Marisa Monte
Um cantor: todos
Pessoa especial: Dona Cila (avó)
Livro: Filosofia Johrei – “ O Bom, o Bem e o Belo”
Passeio que recomenda no Rio: uma volta na Lagoa Rodrigo de Freitas, onde mora
Uma frase: Não curto drogas!
Maria Gadú em uma palavra: música